sábado, 10 de dezembro de 2011

Jesus, o bagaço do bagaço

Confesso que não gosto de reler livros, exceto aqueles que me marcam profundamente. Abro uma exceção também àqueles que necessitam de fato serem relidos ou permitem com mais facilidade tal proeza. O Vila Maravila do pastor Marcos Monteiro é um destes livros. Hoje resolvi pegá-lo mais uma vez não para reler totalmente, mas escolher qualquer texto e ler já que a obra me permite fazer isto.
O livro é composto de crônicas baseadas em uma síntese de muitas andanças do pastor Marcos Monteiro entre as favelas do Brasil juntamente com personagens tão reais que segundo ele, deveriam ser inventados/as.
Reli então, mais uma vez a crônica O bagaço da cana. É a partir da tentativa de entender o conceito de Paranísio, um socialista convicto, que esta crônica é desenvolvida. Paranísio que é o presidente do sindicato dos ambulantes da Vila Maravila, afirma que a prefeitura é um moedor de cana humana. Para entender a simbologia utilizada pelo socialista, o autor nos convida a perceber o processo de moedura da cana. Ela é diversas vezes moída até restar o bagaço do bagaço, símbolo de resistência que merece nossa reflexão. Esta é a metáfora utilizada para descrever o excluído que assim como a própria cana, resiste a todas as moeduras.
Na nossa sociedade existem vários moedores de cana humana. O mais perverso parece ser o sistema capitalista opressor e alienante que mói a cada instante o ser humano tentando destruir toda forma de vida. Com a sua crônica Marcos Monteiro chama a atenção para a alegria do favelado que perde os dentes, mas não perde o sorriso. Ainda faz referência a Jesus que foi/é vítima de toda opressão, mas, demonstrou pela ressurreição a indestrutibilidade da vida e a resistência de todos os sonhos.
O Frei Carlos Mesters autor do livro Com Jesus na contramão também nos apresenta um Jesus vítima de um sistema opressor, mas, que vivia no sentido contrário do mesmo. No Natal, - festa mercadológica - , ganham destaque o Papai Noel, o trenó e o pisca-pisca. Sabe por quê? Porque estes nada sabem sobre indestrutibilidade da vida e resistência à opressão, bandeiras excluídas da agenda capitalista.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Luanda Beira Bahia

Olá pessoal, a Revista Anagrama publicou este mês minha resenha O Local e o Global em Luanda Beira Bahia.



Orientador: Profº Marcos Aurélio Souza

Resumo:
Esta resenha objetiva analisar a relação local/global e a construção da identidade nacional na obra Luanda Beira Bahia do escritor baiano Adonias Filho. O mesmo se fundamenta na discussão sobre globalização traçada por Milton Santos (2000), na ideia de identidade cultural e culturas nacionais, discutida por Stuart Hall (1999) e na leitura apresentada por Marcos Aurélio Souza (2010) sobre discurso fundacional e mestiçagem.

Palavras-chave: Adonias Filho; Identidade Nacional, Local e Global.

Clique aqui para ler a resenha completa http://www.revistas.univerciencia.org/index.php/anagrama/article/view/7864/7268


segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Ordem

Floresça, cresça,
ego meu.
Alimente-se.
Nutra minha
humanidade.
Me faz gostar,
alegrar, exaltar.
Eliminar a metade.
Dos conflitos,
aflitos.
Tira o medo,
que me atira
no abismo das
emoções.
Me faz subir
um monte.
Encarar o
segredo
de viver.
Sem a mistura
delirante.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Salve Jorge, o menino grapiúna!



Jorge Amado nasceu em 10 de agosto de 1912 em Ferradas distrito do município de Itabuna na Bahia. Certa vez fez questão de esclarecer: “Sou itabunense, um grapiúna da região do cacau!”. Jorge viveu grande parte da sua infância na cidade de Ilhéus e por isso se considerava um menino de duas cidades.

Aos 11 anos de idade, o menino grapiúna foi para Salvador estudar no colégio dos padres jesuítas. Lá conheceu o padre Cabral que o influenciou bastante por ter um estilo alternativo de ensinar e emprestar-lhe bons livros. Padre Cabral era um professor diferente que não ensinava regras gramaticais, mas, lia maravilhosos textos para seus alunos. Este professor além de padre era um profeta, pois ao ler uma redação de Jorge, declarou: “Esse vai ser escritor!”. E a profecia se cumpriu, o menino escreveu muitos romances recheados de personagens marginalizados e fora dos padrões sociais. Jorge Amado partiu em 6 de agosto de 2001, mas deixou conosco Pedro Bala, Balduíno, Gabriela, Tieta, Dona Flor dentre outros para nos divertir.

Salve Jorge! Esta tem sido a saudação nas terras baianas nestes dias que antecedem o seu centenário. E o Instituto de Educação Régis Pacheco - IERP, também dá a sua saudação proporcionando aos seus alunos um mergulho na maravilhosa denúncia, a obra Capitães da Areia. E por ser uma denúncia, a obra foi queimada em praça pública no ano de 1937, ano de sua publicação. Capitães da Areia é do século passado, mas é tão atual...

A vida e obra de Jorge Amado nos fazem um convite que soa assim nos quatro cantos do mundo: “Vem ver a Bahia vem ver de amor de cacau de dendê, de brancos e negros vem ver, de muitos amores vem ver...”

Salve Jorge, nosso Amado grapiúna!


Obs: Nos dias 03, 10, 17 e 24 ,de novembro, às 13h na biblioteca do IERP, o Subprojeto de Letras do PIBID estará ministrando oficinas de leitura sobre o livro Capitães da Areia. É o projeto Novembro com o AMADO Jorge. Participe!!!




domingo, 30 de outubro de 2011

O Sermão do Monte, onde Ser é o bastante



Texto dedicado à Adriana Ichim a quem já teve o privilégio de ouvir

as doces palavras do Pr. Carlos Queiroz.


Acabo de ler o livro Ser é o bastante – felicidade à Luz do Sermão do Monte, do pastor cearense Carlos Queiroz. Neste livro o autor discorre sobre os ensinamentos do Sermão do Monte, mensagem importante para todo aquele que se torna ou pretende se tornar seguidor de Jesus.

Embora o Sermão do Monte seja um texto bastante conhecido da bíblia, Carlos Queiroz nos convida a lê-lo com encanto e deslumbre como quem lê pela primeira vez. Para ele, a redescoberta da vocação humana talvez seja um dos mais significativos aspectos abordados neste texto.

O autor discorre com maestria e simplicidade sobre a proposta apresentada no texto bíblico que aponta para a realização plena de nossa humanidade. Segundo ele, ser gente é o que há de mais profundo na vocação dos seguidores de Jesus.

Queiroz enfatiza em seu livro a radicalidade e não extremismo que há no texto do Sermão do Monte. Como também, faz questão de analisar os ensinamentos do mestre e faz isso detalhadamente versículo por versículo. Mostrando que o pobre de espírito citado por Jesus é aquele que tem exclusiva e total dependência de Deus. O conceito de Pobre/humilde apresentado por Jesus implica numa condição de alma, num estado de espírito, numa nova atitude em relação a Deus. O conceito de Jesus em relação à mansidão também nos é revelado. Segundo o autor, Jesus poderia utilizar seu próprio exemplo de vida ao falar em mansidão. Jesus vivia de tal forma a sua condição de ser que não sentia necessidade de provar aos outros coisa alguma, nem de competir por aquilo que não era, pois para ser não precisava destruir pessoas.

São conceitos de mansidão, felicidade, humildade, sensibilidade que nos são apresentados neste livro. Além disso, Carlos Queiroz nos proporciona uma reflexão sobre as inovações da oração do Pai nosso. Oração que segundo ele é a oração da intimidade, da dependência, da entrega absoluta, incondicional, da comunidade e da transcendência.

Leio este livro em um período da minha vida em que escolho me engajar em um novo projeto, onde Ser é o bastante.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Carlinhos e a escola amarela

Todos os dias às cinco horas da manhã Carlinhos sai de casa acompanhado de Creuza, sua mãe, que o deixa na porta da escola vermelha esperando abri-la. É muito cedo, o horário é de verão e a madrugada ainda é bastante escura. Creuza trabalha numa cozinha de uma luxuosa casa no condomínio Morada dos ricos e acorda cedo porque a caminhada até o condomínio é longa.

A escola onde Carlinhos estuda está situada entre o bairro São Luíz e o centro da cidade de Jequié. Ela é de pequeno porte mas, atende muitas crianças moradoras de bairros periféricos.

Carlinhos é um menino esperto e enquanto espera a chegada do porteiro da escola, se mantém atento para que ninguém lhe faça mal. Certo dia, resolveu caminhar um pouco, a fim de quebrar a monotonia da espera, e percebeu que próximo à escola vermelha numa distância de mais ou menos dez metros existe uma outra escola bastante diferente. Ela é pintada de um amarelo forte e possui grandes prédios que ameaçam invadir todo o quarteirão.

O encantamento foi a primeira reação de Carlinhos diante da descoberta, logo depois surgiram-lhes grandes questionamentos. Não entendia porque havia tanta diferença entre as escolas e porque era impedido de estudar ali. Pensou: “Não deve ser ruim estudar numa escola grande, com área de lazer, janelas de vidro e ar condicionados”. Ele admirou tanto aquela escola que se esqueceu do tempo. Por isso pôde ver chegar as crianças que estudavam lá. Seus pais as levavam de carro e mais uma vez pensou: “Porque meus pais não tem um carro para também me trazer na escola?”. A cada criança que chegava Carlinhos se convencia mais da diferença que havia entre os alunos da escola amarela e os da escola vermelha. A pele que aparentava a boa alimentação e os tênis de marca e sem furos daquelas crianças traziam à sua memória a figura dos colegas que muitas vezes chegavam à escola sem se alimentar e usavam tênis furados ou chinelos velhos. O garoto se encantou com o cuidado que aquela escola demonstrava ter com seus alunos. Presenciou o momento em que a rua foi interditada para que eles atravessassem de um lado para o outro com toda a segurança. A presença de um policial militar em frente à escola garantindo a segurança do local também o deixou bastante encantado. Então pensou: “Se esta escola tem um policial porque a minha também não pode ter?”. Carlinhos resolveu perguntar ao polícia se ele poderia fazer a segurança da sua escola também. O policial ao vê-lo se aproximando, com seu traje de menino de escola pública, ordenou de forma brutal e ignorante que o mesmo deixasse o local, como se o menino representasse alguma ameaça ao ambiente. Então, o garoto obedeceu prontamente se direcionando à sua escola e ao mesmo tempo voltando os olhos à amarela. Na escola vermelha as aulas já haviam terminado e as crianças saiam levando um saco de leite para casa. E na rua da escola amarela os carros dos pais já formavam fila, na espera dos filhos e atrapalhava os transeuntes.

Foi assim que Carlinhos percebeu que no mundo existem coisas que não deveriam ser diferentes umas das outras, mas são, inclusive as instituições que chamamos de escolas.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Maria Clara

Cabelos encaracolados com cheiro de flor.
Pele morena, olhos graúdos que
expressam o amor.
Tua voz dengosa
me faz sempre ceder
aos desejos de menina
que parecem não se deter.
É sorvete, milk shake, refrigerante,
seja o que for...
Tenho prazer em comprar pra satisfazer meu amor.
Um acróstico te fiz pra marcar
tua chegada.
Dez anos depois te faço uma poesia.
Continuo encantada!
Hoje é um dia de muita alegria.
Pois completa-se dez anos que
recebemos Maria.



Hoje Maria Clara completa 10 anos de idade.





sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Um passeio pelos blogs e sites que sigo

Olá pessoal resolvi fazer uma brincadeira com os títulos criativos dos blogs e sites que sigo.
É uma forma também de incentivar aqueles que há muito tempo não escrevem
em seus blogs ou sites.
As frases sublinhadas são os títulos dos blogs ou sites e te levam às suas respectivas páginas.


No Bolo do mundo virtual gosto de expor as Várias partes de mim.
Fico até com medo de que A Raposa Felpuda venha me morder
porque discuto Gênero e outras coisas num certo Bataclan da utopia.
Mas Sob os olhos percebo que tudo é Só poesia e que As palavras são eternas.
As polêmicas da vida na Conversa Gabirú
me fazem perceber que Mudar é viver
estão sempre no meu Querido diário
ainda que em Poucas palavras.
A hora da Prosa e verso entre amigos é agradável demais
e sempre me lembra o lugar dA Teologia do cotidiano.
Pois, quem me conhece sabe que levo A vida em reflexões
Mas o dono da Minha Maricotinha
logo me dá um F5
e entre as Le-tranças da vida
descubro que preciso Apenas ser.
Se quero me distrair um pouco, leio uma crônica Maravilosa e sábia
Assim, me disponho aos Acasos afortunados
deste altar chamado vida.

Graça não combina com cálculos



A crônica "Sem contabilidade", do escritor Rubem Alves, foi sem dúvida uma das leituras mais marcantes que já fiz em toda a minha caminhada cristã em busca do entendimento sobre a graça de Deus. Nesta crônica, Rubem critica as pinturas e máscaras mal feitas do rosto de Deus pelas mãos dos religiosos e nos lembra que Jesus diversas vezes desfez estas máscaras e pinturas errôneas. Dentre essas diversas vezes Rubem Alves destaca em sua crônica a narrativa conhecida como a Parábola do Filho Pródigo, em minha opinião, a mais bonita de todas as parábolas bíblica. Com a ajuda dele aprendi que nesta narrativa o rosto de Deus pintado por Jesus é aquele que não faz distinção entre credores e devedores, eis aqui minhas reflexões.

A maioria das pessoas utiliza esta parábola em sermões para exortar pecadores a se arrepender. Rubem vai além, pois ao invés de enfatizar somente a atitude do filho desobediente ele discorre também sobre a atitude do filho obediente. Na parábola, o filho desobediente sai de casa, gasta todo o dinheiro loucamente, enquanto seu irmão cumpre seu dever de "bom" moço, obedece e resiste às tentações. Este, mesmo não saindo de casa, se mantém distante do pai e não o conhece, assim como aquele que teve a coragem de sair. Os dois filhos estão na mesma situação, pois ambos sabem contabilizar e numa tentativa frustrada tentam colocar isso em prática. O pai não soma crédito nem débito, mas os filhos ainda não sabem disso. Esta é a lógica humana, que muitas vezes tentamos transferir à Deus. Ah... como somos maus! Pensamos até que Ele tem um caderno onde registra todos os nossos feitos positivos e negativos. O diálogo entre os personagens revela o quanto os filhos não conhecem o caráter do pai. O filho mais jovem cheio de culpa acredita ser um devedor, o filho mais velho em busca de seus direitos acredita ser credor, os dois filhos eram iguais um ao outro e iguais a nós: somavam débitos e créditos como bons matemáticos. Mas na conversa entre eles, a resposta do pai é desconcertante, constrangedora. Ele afirma: Eu não somo débitos nem créditos. Somente o pai era diferente, pois Ele era o único na estória que não sabia calcular. Rubem Alves finaliza a sua crônica sugerindo dois títulos à famosa parábola "Um pai que não sabe somar" ou "Um pai que não tem memória". Eu sugiro um outro: "Parábola dos filhos matemáticos".

Que possamos desaprender a fazer contas, afinal, a dívida já foi paga, necessário é que lembremos sempre disso!

Paz e bem!

Vídeo do Jorge Camargo falando da Graça e cantando Amor incondicional.


http://www.youtube.com/watch?v=d7KThE_6Xao&noredirect=1