Para Lucas Correia, meu
Balduíno
Este ano, o carnaval da Bahia tem
como tema O país do carnaval, pois irá
homenagear o centenário do escritor baiano Jorge Amado, autor de obras como Gabriela cravo e canela, Tieta do Agreste,
Capitães da areia, Jubiabá, Cacau, Quincas Berro D’água dentre outras.
Em seus livros, Jorge Amado
mostrou ao mundo a diversidade que compõe a Bahia e descreveu nossos vagabundos
e excluídos dando a eles uma grande visibilidade. Em Capitães da areia e Jubiabá
notamos a presença desses personagens nos becos, vielas, botecos e vários
outros lugares da grande cidade misteriosa.
Seus personagens esfarrapados e
esfomeados representam grande parte da população da cidade de Salvador. E são
eles que a conhecem como a palma das suas mãos e buscam a cada dia a sobrevivência
em meio às desigualdades.
Mas, diferente das obras amadianas,
a telinha da TV mostra o carnaval de gente rica usando seu caro abadá e cantando “Sou camaleão sou o seu
amor...”. Enquanto isso, os personagens de Jorge catam latinha, vendem cerveja
bem gelada, seguram a corda do bloco sem saber quando receberão o mísero
pagamento e pulam na pipoca. Suas aparências e seus trajes não ajudam a grande
mídia e a cor da pele atrapalha muitas vezes, por isso, eles não são filmados. São
meninos de rua, alcoólatras, prostitutas, sindicalistas e todo tipo de
desfavorecido. Destas pessoas, só interessa mesmo a mão de obra barata que em
nada compromete o lucro arrecadado na festa pelos empresários. O carnaval na
Bahia garante lucro para dono de bloco e curtição para quem tem dinheiro.
Meu desejo é vê gente como Pedro
Bala, Sem Pernas, Balduíno e Quincas usufruir desta festa, como um direito. Mas,
pelo jeito, isto está bem difícil de acontecer porque o país é do capital e o carnaval não é para qualquer um.
Me lembra o filme 'o paí o' que mostra a realidade do carnaval baiano: os personagens da periferia de Salvador não tiveram a oportunidade de curtir o carnaval da cidade. Me lembra a citação de uma pessoa no Facebook: "Atras do trio elétrico só vai rico e europeu". Carnaval do apartheid, me lembra a escravidão, um tipo de prostituição da cidade, que recebe uma mixaria em troca da exploração do seu espaço.
ResponderExcluirÉ verdade Fania, bela ligação. E ainda te digo, o carnaval é somente uma parte do apartheid que vivemos no Brasil e ainda tem gente que tenta negar isso o tempo todo.
ResponderExcluirMarcio Santtos
ResponderExcluirExcelente texto Gal, evidencia de uma maneira bastante clara como é realmente o carnaval, ou seja, existe uma verdadeira alienação nessa festança, e a própria mídia contribui pra isso.
Valeu pela participação Marcio. Abraço!
ExcluirAmiga, qdo eu crescer quero ser como vc!!! Lindo texto gata!!! Bela e apurada análise!! Beijos!!!
ResponderExcluirTu sabe que essas reflexões são frutos de conversas com amigos como vc. Lembra dos nossos papos analisando a sociedade e vc falando em seu professor Manoel?
ResponderExcluir"Todo bloco de corda tem um pouco de navio negreiro, todo camarote tem um quê de senzala" Frase do Face...que retrata a realidade do "carnaval capital" da capital baiana, sonho com o dia em que os personagens invisíveis de Jorge possam usufruir em igualdade de direito do seu espaço, que é invadido por uma elite branca deixando a nossa terra sem cor e sem sua baianidade nagô.
ResponderExcluirLua Rodrigues.
Mascára é um troço que o cara tira no carnaval...(JOAÕ BOSCO) e coloca a sua verdadeira identidade, lindo texto.
ResponderExcluirÉ verdade Lua, lembro tmb da música de Natirutz que diz: "quem inentou o som do agogõ não participar do famoso carnaval de Salvador".
ResponderExcluirMãe, obrigada pelo comentário, "máscara é um troço que o cara tira no carnaval, interessante!
Regaçô!!!!
ResponderExcluirLuciano Medina
Ô Lu, obrigada pela visita. bjão
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