terça-feira, 24 de setembro de 2013

O NARRADOR em Narradores de Javé


O filme brasileiro, intitulado Narradores de Javé (2003), dirigido por Eliane Caffé, relata o drama vivido pelos moradores do Vale de Javé (povoado fictício, situado na Bahia) diante da ameaça do seu desaparecimento. Esta ameaça surge por conta do arbitrário projeto do Governo de construção da represa hidrelétrica naquele lugar. Incomodados e temerosos com esta ideia, os moradores da região, acreditavam que o registro escrito das histórias de fundação – gravadas, até então, na memória do povo - serviria para mostrar às autoridades a importância daquela região e tombá-la como patrimônio histórico livrando-a do desaparecimento.

Dentre muitos temas apresentados no filme, vale ressaltar que a narração e o narrador ganham destaque. O filme é composto de várias narrativas, uma delas é a do personagem Zaquel que efetivamente vai contar a história do povoado. Dentro desta história há várias subnarrativas que recebem versões diferentes à medida que são narradas por personagens diferentes. Podemos afirmar que os conceitos destes temas no longa metragem são análogos à teoria apresentada por Walter Benjamin em seu texto O narrador – considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. 

O autor inicia seu texto fazendo uma declaração em relação à presença do narrador e sua distância entre nós. Para ele o narrador está em extinção, por isso afirma: “(...) por mais familiar que seja seu nome, o narrador não está de fato, presente entre nós, em sua atualidade viva, ele é algo distante e que se distancia ainda mais (...)”. No filme, esta distância do narrador pode ser observada na figura do homem incumbido de registrar as histórias de fundação do Vale de Javé, Antonio Biá, que há muito tempo já não fazia parte do convívio social. 

Mas, Antônio Biá, não é apenas um homem que sabe escrever em um lugar em que ninguém mais sabe, ele é uma raridade. Segundo Benjamin, as pessoas que sabem narrar devidamente são cada vez mais raras. Biá considera a narrativa uma arte artesanal, um ofício manual. No ato da escrita a sua escolha pelo lápis, ao invés da caneta, é justificada por este seu conceito. 

Ao escutar as histórias, gravadas na memória do povo, para transcrevê-las, o escrivão do Vale de Javé demonstra saber que o ato de narrar requer também o domínio de alguns recursos linguísticos. Por isso dá demonstrações da impossibilidade da imparcialidade na conversão da linguagem oral para a linguagem escrita, e delimita: “a história é de vocês, mas a escrita é minha”. Ele, parece acreditar, como Benjamin, que a narrativa não está interessada em transmitir o “puro em si” da coisa narrada como uma informação ou um relatório e sim, mergulha a coisa na vida do narrador para em seguida retirá-la dele, imprimindo-se na narrativa a sua marca. Neste sentido, é possível perceber no filme que as personagens mergulham de tal forma nas histórias que se tornam protagonistas delas.

Outra característica do narrador apontada no texto de Benjamin é a de que o grande narrador tem suas raízes no povo, principalmente nas camadas artesanais. Biá representa esse narrador, pois, para desenvolver seu trabalho entende que é preciso se relacionar diretamente com o povo e não se deixar influenciar por quem está de fora.

Para Benjamin, a verdadeira narrativa tem sempre em si, uma dimensão utilitária e essa utilidade pode incidir em um ensinamento moral, uma sugestão prática, um provérbio ou uma norma de vida. Para o povoado de Javé, a dimensão utilitária da narrativa estava no fato de que ela “salvaria” aquele lugar. 

No primeiro momento, Antonio Biá não cumpre a missão para a qual foi designado, de escrivão dos grandes feitos do Vale de Javé, mas, mesmo assim, ele figura entre os sábios e os mestres - característica dada ao narrador por Benjamin - e nos ensina que em alguns momentos a melhor opção “é deixar a história na boca do povo, porque na mão, não há papel que lhe dê razão”. 

No final do filme, a chegada das águas, representando a modernidade, aparentemente, resulta na morte da narrativa, pois, esta ali já não tem o mesmo efeito. Com a chegada da imprensa no mundo moderno a morte da narrativa foi temida por Walter Benjamin. A cena da entrada de Biá nas águas segurando o “livro da salvação” é emblemática, pois, representa o possível desaparecimento do narrador. 

Mas, assim como o surgimento da imprensa não apagou completamente a narrativa, como temia Benjamin, a chegada das águas no Vale de Javé também não apaga a figura do narrador. Com a cidade desaparecida, Antônio Biá começa uma nova história de Javé, a fim de atribuir significado ao passado, a partir de um mundo novo que desponta. 


REFERÊNCIA:

BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994.





















segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Homenagem para Daniela


A grandeza de ser humano que carregas no peito me deixa encantada, boquiaberta. Agradeço à Deus por ter me agraciado com uma irmã/companheira/amiga.
Você sabe que és uma referência para mim não é? Mas, não custa nada repetir isso, até mesmo porque sinto uma necessidade enorme de dizer para todos o quanto que tua vida me ensina, teu jeito de se relacionar com as pessoas, tua humildade em reconhecer seus próprios erros e olhar o outro sem distinção como Cristo nos ensina.
Ah, como gosto quando as pessoas me acham parecida com você em algum aspecto, fico tão lisonjeada que você nem imagina...
Acho que Deus não encontraria uma data melhor para o seu aniversário, na chegada da primavera, estação das flores e, principalmente, de uma flor chamada Daniela.
Te amo!
Feliz primavera!!!