domingo, 27 de abril de 2014

PRONTO, FALEI: MULHER GOSTA É DE DINHEIRO!



Hoje, ao me sentir bem ao comprar, com o meu dinheiro suado, algumas coisas que estava precisando para uso pessoal, pensei: "A insistente frase vinda de um ou uma machista, 'Mulher gosta é de dinheiro', merece, no mínimo, um questionamento (se encaramos de forma inocente a frase) e uma sentença (se considerarmos o contexto em que sempre é mencionada. O questionamento é: E quem não gosta de dinheiro? Já a sentença é bastante pessoal. No meu caso, a frase 'Mulher gosta é de dinheiro' não me contempla totalmente. Sabe por quê? Porque eu gosto de dinheiro, mas do MEU dinheiro!" 

Reflita vc tmb! 

Bejim no ombro para todas as pensadoras contemporâneas!!! 
(Glauce Souza - 26/04/2014)

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Um feriado, um ralo e uma bunda


                 Para Maria Luiza Carôso
                (Obrigada pela indicação do filme!)

         Geralmente, para se livrar do tédio gerado por dias ociosos, como o feriado do dia 21 de abril – sem muito que fazer -, assisto a algum filme. Mas não é um filme qualquer e sim um daqueles inúmeros que estão numa imensa lista pessoal, esperando o seu momento.
          Acredito que cada pessoa tem a sua lista cânone1 de filmes e livros que pretende ler antes de morrer. Certamente, quando a morte chegar as tais listas ainda estarão à todo vapor, pois, pelo menos as minhas, não param de crescer. O principal motivo que faz minha relação de livros crescer com frequência é o fato de não ter dinheiro para adquirir as obras que mais desejo ler.  No Brasil, os livros ainda são muito caros. Outro motivo é a falta de tempo para se dedicar à leitura. Já a minha lista de filmes, cresce ininterruptamente porque moro numa cidade que não tem sequer um cinema. Como uma cidade pode ter quatro cinemas na década de 70  e hoje não ter nenhum? Isso é, no mínimo, estranho. “A única coisa que vai pra frente em Jequié é o atraso” sentencia um tio meu que mora longe daqui, mas entende da política, da economia e da cultura desta terra quente de meu Deus. Mas isso aí é conversa para outro momento.
Voltemos ao feriado. Neste dia, escolhi um filme nacional do ano de 2007, intitulado “O cheiro do ralo”. O longa-metragem é baseado no romance homônimo de Lourenço Mutarelli.  Acessei o you tube para assistir ao filme e pretendo descrevê-lo de forma sincera e clara. Inicialmente, penso em um adjetivo para atribuir a ele e concluo que posso fazer uso do mesmo adjetivo que usei para a situação do cinema na cidade de Jequié, estranho. O filme é estranho comparado com o padrão aprovado pelas pessoas, na maioria das vezes. Coisa rara é encontrar gente que goste de filmes sem ação e sem besteirol. O cheiro do ralo é assim, parado, irônico e possui uma atmosfera existencial, não tem cenas de ação e não tem besteirol. O longa é ambientado na grande São Paulo, provavelmente, da década de 70 e o personagem principal é Lourenço (interpretado por Selton Melo), um homem que compra e vende objetos usados, na maioria das vezes de grande valor sentimental, que para ele não significa nada. Lourenço compra os objetos apenas quando julga conveniente ou quando se agrada da cara da pessoa que está vendendo. Seus critérios, definitivamente, não dialogam com a necessidade das pessoas. Ele é esquisito e desprovido de qualquer tipo de afeto ou solidariedade humanista para com o seu semelhante.  Seu dia a dia é marcado pela falta de misericórdia e pelo embrutecimento humano, demonstrando sempre seu poder aquisitivo e como um algoz debochando friamente da miséria alheia. Lourenço custa a entender que também está num estado de miséria profundo. Por isso, insiste em explicar aos seus miseráveis vendedores que o cheiro incomodativo em sua sala é do ralo do banheiro que usa. Lourenço não consegue resolver o problema do mau cheiro, mas sente-se intensamente dependente e atraído  por ele, pois o odor é unicamente dele. Mas o cheiro que mais incomoda Lourenço, é o dos traumas que talvez nunca quisesse resolver. Quiçá, ele seja a melhor representação do homem-bicho que já vi no cinema brasileiro. E se aproxima do homem confundido com um bicho descrito no poema “O bicho” de Manuel Bandeira. Ambos apresentam os mesmos motivos que os levam, respectivamente, ao cheiro do ralo e ao lixo.  Há apenas um grande desejo na vida de Lourenço que o leva todos os dias a uma lanchonete, um dia comprar a bunda da moça que trabalha lá.  
Mesmo não tendo besteirol algum, o filme nos arranca risadas. Algumas cenas nos faz rir um riso consciente de que a condição humana pervertida pelo capitalismo selvagem - que nos leva à compra e venda da nossa própria alma - seria cômica se não fosse trágica, como o próprio desfecho do filme.    

1 Utilizo o termo “cânone” não no sentido legalista, mas partindo do significado diversificado que o cânon possui ao empregar inúmeras vozes. E partindo daí, o termo expressa movimento, brincadeira, descoberta e, no sentido retórico, invenção. 

sábado, 19 de abril de 2014

A Teoria da Literatura no Brasil e algumas questões contemporâneas

Traçar o panorama histórico da teoria literária no Brasil, talvez seja a melhor forma para entender as influências recebidas e as suas nuances na contemporaneidade.
            Inicialmente, a teoria da literatura servia às leituras de textos com seus métodos e técnicas. Aos poucos tornou-se objeto privilegiado de exame e abriu espaços para a reflexão. Ela marcou sua presença no interior de outros saberes da história, sua compreensão exigia uma dinâmica relação com outros discursos como a filosofia, a linguística, a antropologia, a sociologia, a psicanálise e a semiologia. Na década de 60, por ganhar espaço no currículo de Letras de todo o país e por iniciar nova reflexão crítica sobre a literatura, a disciplina se destaca entre as outras das ciências humanas.
            É nos anos 70, com a abertura dos cursos de pós graduação, no Brasil, que a interdisciplinariedade recebe grande incentivo por parte do estruturalismo. Assim, a teoria literária estreita a sua relação com antropologia, a psicanálise e a semiologia. Nesta época, se desenvolve os estudos de interpretação dos discursos mítico, onírico e literário, e de textos marginalizados pela literatura oficial.   Ao ser considerada ciência da literatura, a teoria literária se encarrega de demonstrar as leis e processos que regem o texto literário. Com influência das correntes de crítica do século XX, formula e elabora métodos, categorias e conceitos próprios. O reflexo dessas transformações resulta no repúdio da abordagem historicista e a defesa de categorias universais com base em critérios de ordem estética.
            À medida que os discursos das ciências humanas ganhavam mais espaço no interior dos cursos de Letras, mais obrigava os estudos literários a renovar sua teoria e a participar das transformações realizadas nas outras áreas. Assim, os cursos de literatura brasileira se inclinavam para certo tipo de abordagem que privilegiava a análise das formas narrativas contemporâneas, as manifestações de vanguarda, ou a literatura de textos fundadores da literatura brasileira, visando a constituição de uma nova historiografia literária.
            Vale ressaltar a grande contribuição que a antropologia deu à teoria da literatura. Essa ciência ao descentrar o eixo dos valores etnocêntricos, propiciou a quebra de hierarquia dos discursos e aguçou o interesse pela valorização de textos considerados marginais pela cultura oficial.  Os Estudos Culturais, na década de 1950, desenvolvido por teóricos ingleses, defendia o valor da cultura popular frente à nova cultura de massa e as manifestações literárias que não estivessem voltadas somente para as elites. Conhecida como crítica cultural, estes estudos chegam ao Brasil depois da ditadura militar. É nesta época que as teorias são revitalizadas pelos interesses por novos conceitos, como os de pós-colonialismo, pós modernismo, pós-estruturalismo, e com o advento dos discursos das minorias.
            A estudiosa Eneida Maria de Souza em entrevista concedida em 2007 à Helton Gonçalves de Souza e Martha Lourenço Vieira ressalta o engajamento de muitos em defesa da literatura. Segundo ela, estes defensores alegam que a literatura está sendo negligenciada pelos Estudos Culturais. Eneida considera essa discussão sem contribuição, para ela, a crítica literária sempre se preocupou com a cultura. Por isso, ressalta que hoje é impossível ler e analisar um texto sem que este ultrapasse as fronteiras literárias e se projete para outros campos.
Assim, é possível afirmar que a crítica literária, dos dias atuais, não se restringe a um público específico, mas volta o seu olhar para as transformações culturais e políticas do mundo, daí a aparente crise enfrentada pela teoria literária.
Em sua obra Tempo de pós crítica (2012) assume a posição de que a obra literária não deve se restringir a parâmetros centrados na ruptura ou no endosso de determinados modelos sociais. Segundo ela, a marca autoral no texto analítico funciona como uma das conquistas mais recentes do discurso crítico das ciências humanas, entendendo-se que o sujeito volta à cena no discurso de forma ainda esvaziada e fraturada. A reflexão de Eneida desvincula da dimensão universalista e generalizante, o estatuto do sujeito, da autoria, da escrita e da linguagem.
Eneida não é saudosista nem mesmo fecha as portas para o futuro, apenas admite corajosamente que “(...) a valorização de um passado sem brechas ou rasuras complica e falseia a lembrança, com vistas a reter apenas o que a memória soube guardar de bom” (SOUZA, 2012, p. 74). Assim, a estudiosa demonstra entusiasmo diante das mudanças que se refletem no pensamento crítico atual. Para ela, reconhecer as limitações teóricas e procurar ultrapassá-las seria o primeiro passo para que não seja destruído um projeto, nem tão utópico, de construção de um pensamento crítico entre nós.
            Embora entenda a prática teórica como uma forma de intervenção do intelectual, Eneida admite ter a sensação de estarmos divididos entre um pensamento teórico capaz de entender os complexos acontecimentos da contemporaneidade e a posição assumida pela classe intelectual universitária, voltada para a prática selvagem de modelos tradicionais. Muitos desses intelectuais reforçam, por exemplo, os preconceitos ligados aos Estudos Culturais, por considerarem que estes promovem o esvaziamento da noção de cultura, indissociável do conceito de identidade nacional.


SOUZA, Eneida Maria de. Tempo de pós-crítica: ensaios / 2 ed. – Belo Horizonte: Veredas e Cenários, 2012. 


terça-feira, 15 de abril de 2014

O Deus que ressuscita na minha e na tua face

Eu prefiro uma páscoa longe das celebrações vazias. Prefiro a páscoa de todos os dias, não esta, estabelecida pelo nosso calendário, atrelada a uma prática recheada de estereótipos e gestos monótonos sem vida e sem reflexão. Eu prefiro celebrar a vida, a vida do Cristo, a vida do meu irmão. Eu prefiro celebrar a ressurreição do Cristo que está entre nós, que não veio dizer que o Reino estava chegando, mas, que nos TROUXE o Reino de Deus. Eu prefiro celebrar, não a ressurreição de um deus criado por um sistema opressor que ensina as pessoas a distribuir chocolates ao invés de perdão, compreensão e amor, mas a ressurreição de um Deus libertador. Eu prefiro, definitivamente, experimentar o Deus que ressuscita todos os dias na minha e na tua face. (Glauce)