Estava eu, hoje, chegando na rua Carlos Gomes, na cidade de Salvador,
quando de repente passo por duas mulheres NEGRAS, de jeito simples e
cheias de criticidade sobre a vida. Foi inevitável não ouvir a conversa
entre elas. Uma contava para a outra: "eu perguntei a ele se era racismo
ou o quê esse negócio dele namorar apenas mulheres brancas... Pra mim é
racismo o cara ficar só com mulheres brancas..." A partir
da narrativa da mulher, percebi que a resposta do homem foi bem vazia e
sem desconfiança alguma sobre sua situação: "não é racismo não é que
gosto mais de namorar mulheres brancas...", enquanto que o
questionamento dela tinha no ar, cheiro de porquês e de desconfianças
sobre a situação masculina, e sobre a condição de muitas mulheres negras
do nosso Brasil. Mesmo sem ela entrar em detalhes, a indignação da
mulher me deu uma pista: o homem da narrativa, com certeza, é negro! Ao
ouvir esta conversa lembrei do que disse uma professora minha: "os
homens negros não foram ensinados a amar as mulheres negras". Tive
vontade de dizer isso para elas, mas concluí que não era preciso, pois
elas já sabem disso. Quando olhei para trás, elas atravessavam a rua e
seguiam para a Avenida Sete, certamente prontas e empoderadas para
enfrentar o racismo nosso de cada dia, que tenta nos negar até mesmo o
amor. Adoro quando vejo teoria crítica implícita na boca e na vida do
povo, que sabe o que sente.
Entrelaçando crônica e teoria crítica. Adorei ler!
ResponderExcluirEntrelaçando crônica com teoria crítica. Adorei ler!
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