Ao mau pregador
Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir desculpas se eu não te agradar com o meu humilde texto. Ou melhor, não quero te pedir desculpas, desejo que você fique bravo (a) comigo, caso você esteja incluído (a) no texto! (risos)
Ontem, dia 01/07/2009, comecei a ler o Sermão da Sexagésima do Padre António Vieira. Sempre ouvi minha prima, hoje formada em Direito, falar pra minha mãe da preciosidade dos sermões deste padre raro.
Sou do tipo que anota na agenda os livros e filmes que devem fazer parte da minha vida. Isto é pra mim como uma necessidade. Geralmente priorizo ter acesso às obras que não devem passar desapercebidas por uma pessoa do curso de Letras, o melhor curso do mundo, diga-se de passagem. Mesmo fazendo parte da minha lista de obras indispensáveis, nunca tive ansiedade para ler os textos do Vieira, porque sabia que uma hora ou outra iria me deparar com eles. Esta hora chegou, e foram horas maravilhosas!
Confesso, fiquei fascinada com a linguagem, coragem, clareza e várias outras riquezas encontradas no texto. Mas o que me deixou mais fascinada, foi o fato de como um sermão escrito no século XVII pode ser tão atual. O Sermão da Sexágesima foi pregado na Capela Real, em Portugal, no ano de 1655 pelo próprio padre, 60 dias antes da Quaresma. Neste sermão o autor fala da arte de pregar e utiliza da parábola do semeador citada na bíblia. Vieira questiona a quem deve atribuir a culpa da palavra de Deus na sua época, não estar dando frutos. Seria da parte do pregador, do ouvinte ou de Deus? Vieira elabora perguntas que ele mesmo responde. Seu Sermão é composto de muitas críticas aos maus pregadores. Agora te pergunto meu caro leitor : você já pensou se ele ouvisse algumas pregações de hoje? Infelizmente, ainda existem tantos maus pregadores da palavra de Deus, muitos que escondem a verdade, pregam pra agradar o público ou fazem do púlpito lugar de comédia como ele mesmo afirmou.
Por mais que nos púlpitos ainda existem muitos que preferem o caminho mais fácil, o pacto da hipocrisia, do fingimento e da enganação tanto de si como dos outros, acredito (tenho fé e esperança) ainda na possibilidade de que um dia desejem entender o seu verdadeiro papel. Pois, como conclui o Vieira, a terra ainda está em estado de reverdecer e dar muito fruto. Porém, o preço a pagar é este: devemos pretender nos nossos sermões: não que os homens saiam contentes de nós, senão que saiam muito descontentes de si.
Você está disposto? Espero que sim!
Gal, gostei muito da leitura do Pe. Vieira.
ResponderExcluirNão sou muito fã de ler os sermões, mas vejo e reconheço a sua importância para a compreensão literária e tbm religiosa.
P/ mim é ainda é uma surpresa, pois, nesse tempo de intolerância religiosa é difícil ver que existem pessoas como vc que estão dispostas a refletir sobre o contexto de uma época. Sabemos que não há religião certa nesse mundo, mas uma coisa eu aprendi... todas elas, não importa qual, tem um bem comum que é a crença num Deus supremo (Tupã, oxalá Deus, Jeová, Alá, etc)!
E nas suas palavras vejo uma coerência que falta em muitos de nós!
Gostei qdo falou dos falsos pregadores e de muita igreja(de várias religiões) que mais parecem uma empresa do que um espaço para se contemplar DEUS e dividi-lo em comunhão com as outras pessoas.
Sei lá... esse mundo anda muito cão.
Ninguém mais se importa com o outro, com os sentimentos dos outros e as palavras de "pregadores" entram e saem dos ouvidos ocos de seus fieis cegos.
Qdo é que realmente começaremos a respeitar as pessoas e enxergar O DEUS que nelas habita?
Enfim, por tudo isso parabenizo vc e digo que vc não deve pedir desculpas pelo o que escreve. Escreva, ponto e acabou!
Beijos,
Thaís.
=)
Concordo com Vieira. Todo sermão deve incentivar uma reflexão profunda e genuína, de tal modo, que pregador e ouvintes sejam interpelados pela palavra divina que busca a todo o tempo a humanização das pessoas.
ResponderExcluirRealmente já estamos de saco cheio da auto-ajuda barata pregada nos púlpitos, eivada de individualismos e fomentadora de interesses particulares e egoístas.
Voltar aos textos bíblicos, sem dúvida, se faz imprescindível!
Ótima provocação Gal!
Xero