Todos os dias às cinco horas da manhã Carlinhos sai de casa acompanhado de Creuza, sua mãe, que o deixa na porta da escola vermelha esperando abri-la. É muito cedo, o horário é de verão e a madrugada ainda é bastante escura. Creuza trabalha numa cozinha de uma luxuosa casa no condomínio Morada dos ricos e acorda cedo porque a caminhada até o condomínio é longa.
A escola onde Carlinhos estuda está situada entre o bairro São Luíz e o centro da cidade de Jequié. Ela é de pequeno porte mas, atende muitas crianças moradoras de bairros periféricos.
Carlinhos é um menino esperto e enquanto espera a chegada do porteiro da escola, se mantém atento para que ninguém lhe faça mal. Certo dia, resolveu caminhar um pouco, a fim de quebrar a monotonia da espera, e percebeu que próximo à escola vermelha numa distância de mais ou menos dez metros existe uma outra escola bastante diferente. Ela é pintada de um amarelo forte e possui grandes prédios que ameaçam invadir todo o quarteirão.
O encantamento foi a primeira reação de Carlinhos diante da descoberta, logo depois surgiram-lhes grandes questionamentos. Não entendia porque havia tanta diferença entre as escolas e porque era impedido de estudar ali. Pensou: “Não deve ser ruim estudar numa escola grande, com área de lazer, janelas de vidro e ar condicionados”. Ele admirou tanto aquela escola que se esqueceu do tempo. Por isso pôde ver chegar as crianças que estudavam lá. Seus pais as levavam de carro e mais uma vez pensou: “Porque meus pais não tem um carro para também me trazer na escola?”. A cada criança que chegava Carlinhos se convencia mais da diferença que havia entre os alunos da escola amarela e os da escola vermelha. A pele que aparentava a boa alimentação e os tênis de marca e sem furos daquelas crianças traziam à sua memória a figura dos colegas que muitas vezes chegavam à escola sem se alimentar e usavam tênis furados ou chinelos velhos. O garoto se encantou com o cuidado que aquela escola demonstrava ter com seus alunos. Presenciou o momento em que a rua foi interditada para que eles atravessassem de um lado para o outro com toda a segurança. A presença de um policial militar em frente à escola garantindo a segurança do local também o deixou bastante encantado. Então pensou: “Se esta escola tem um policial porque a minha também não pode ter?”. Carlinhos resolveu perguntar ao polícia se ele poderia fazer a segurança da sua escola também. O policial ao vê-lo se aproximando, com seu traje de menino de escola pública, ordenou de forma brutal e ignorante que o mesmo deixasse o local, como se o menino representasse alguma ameaça ao ambiente. Então, o garoto obedeceu prontamente se direcionando à sua escola e ao mesmo tempo voltando os olhos à amarela. Na escola vermelha as aulas já haviam terminado e as crianças saiam levando um saco de leite para casa. E na rua da escola amarela os carros dos pais já formavam fila, na espera dos filhos e atrapalhava os transeuntes.
Foi assim que Carlinhos percebeu que no mundo existem coisas que não deveriam ser diferentes umas das outras, mas são, inclusive as instituições que chamamos de escolas.
Carlinhos ainda vai descobrir tanta desigualdades neste país capitalista....
ResponderExcluiramo td que vc escreve.
O texto aponta um verdadeiro retrato das desigualdades sociais e enquanto lia visualizava tantas escolas vermelhas e amarelas espalhadas pelo o nosso Brasil.Quero pensar que assim como a autora teve esse olhar sensível, os nossos governantes um dias também tenham.O texto é muito bom, parabéns GAl.
ResponderExcluirLindo texto, Gal. Fiquei imaginando o olhar de Carlinhos o tempo inteiro. Um olhar ingênuo, mas maduro. Um olha de indignação e incomodo. Parabéns pelo texto!
ResponderExcluirO que me preocupa é como será formada a mente de Carlinhos... o de aceitar opressão e a desigualdade, ou a de revolta e descontentamento, lutando por uma sociedade mais justa...
ResponderExcluiré realmente um caso para refletir , como será q se forma a mentalidade dessas crianças?
É amiga... é pra refletir msm...essa formação crítica na mente dessas crianças dependerá de muita coisa, inclusive dos professores que passarão pela vida delas.
ResponderExcluirVc enquanto educadora já sabe o que irá oferecer aos seus acrlinhos, conformismo ou luta?
A mentalidade do Carlinhos do conto será revelado, aguarde os próximos!!!