Texto publicado no site F5 Jequié
http://www.f5jequie.com.br/colunas/70-os-personagens-invisiveis-do-carnaval-de-jorge-amado.html
Para Lucas Correia, meu
Balduíno
Este ano, o carnaval da Bahia tem
como tema O país do carnaval, pois irá
homenagear o centenário do escritor baiano Jorge Amado, autor de obras como Gabriela cravo e canela, Tieta do Agreste,
Capitães da areia, Jubiabá, Cacau, Quincas Berro D’água dentre outras.
Em seus livros, Jorge Amado
mostrou ao mundo a diversidade que compõe a Bahia e descreveu nossos vagabundos
e excluídos dando a eles uma grande visibilidade. Em Capitães da areia e Jubiabá
notamos a presença desses personagens nos becos, vielas, botecos e vários
outros lugares da grande cidade misteriosa.
Seus personagens esfarrapados e
esfomeados representam grande parte da população da cidade de Salvador. E são
eles que a conhecem como a palma das suas mãos e buscam a cada dia a sobrevivência
em meio às desigualdades.
Mas, diferente das obras amadianas,
a telinha da TV mostra o carnaval de gente rica usando seu caro abadá e cantando “Sou camaleão sou o seu
amor...”. Enquanto isso, os personagens de Jorge catam latinha, vendem cerveja
bem gelada, seguram a corda do bloco sem saber quando receberão o mísero
pagamento e pulam na pipoca. Suas aparências e seus trajes não ajudam a grande
mídia e a cor da pele atrapalha muitas vezes, por isso, eles não são filmados. São
meninos de rua, alcoólatras, prostitutas, sindicalistas e todo tipo de
desfavorecido. Destas pessoas, só interessa mesmo a mão de obra barata que em
nada compromete o lucro arrecadado na festa pelos empresários. O carnaval na
Bahia garante lucro para dono de bloco e curtição para quem tem dinheiro.
Meu desejo é vê gente como Pedro
Bala, Sem Pernas, Balduíno e Quincas usufruir desta festa, como um direito. Mas,
pelo jeito, isto está bem difícil de acontecer porque o país é do capital e o carnaval não é para qualquer um.