sexta-feira, 30 de março de 2012

Rosisca Darcy e o feminismo da diferença




Acabo de ler o texto “As mulheres em movimento: feminizar o mundo” de Rosisca Darcy de Oliveira. Nele, a autora faz uma análise histórica e bastante sincera do movimento feminista, apontando os equívocos que o discurso da luta de igualdade, difundido pelo movimento, gerou.
Segundo Rosisca, a igualdade no feminismo nasceu capenga e resultou em um equívoco revelado no acréscimo dos papéis ditos masculinos à vida da mulher e a realidade imutável da vida masculina. Este feminismo de soma zero, como denomina a autora, abriu caminho à crise de identidade psicossocial da mulher perceptível à medida que as mulheres se afirmam na vida intelectual e profissional.
A autora afirma que as feministas dos anos 70, leitoras de Simone de Beauvoir eram as herdeiras das lutas pela emancipação da mulher do começo do século e estas ecoavam ideais de igualdade no mesmo momento que enfrentavam a perplexidade de falar de dentro do mundo dos homens.
É nesse período que surge uma produção teórica significativa que transforma as demandas de igualdade em uma busca angustiada dos traços da diferença. Segundo Rosisca, é aqui que nasce uma geração exilada do feminino tradicional e ainda estrangeira no mundo dos homens resultando no projeto de “feminizar o mundo”, redefinição de um mal entendido de base.
Rosisca afirma que na trajetória do movimento feminista gerou-se, em duas etapas, uma contestação radical do senso comum. A primeira, quando a contestação visava provar que as mulheres não são inferiores aos homens. A segunda, quando a contestação feminina anuncia que as mulheres não são inferiores aos homens, mas, também não são iguais a eles e que essa diferença contém um potencial enriquecedor de crítica da cultura.
A autora ainda pontua que a igualdade defendida pelas mulheres nos anos 80, não era mais em nome da capacidade de semelhança aos homens, mas, em nome do direito da diferença, o denominado feminismo da diferença que introduz um questionamento mais radical redefinindo o feminino.
Rosisca sugere a presença dos homens no mundo das mulheres a fim de que se possibilite uma simetria de reconstrução do masculino, pois para ela a verdadeira igualdade é a aceitação da diferença sem hierarquia.
Portanto, a autora finaliza o texto afirmando que um diálogo amigo entre homem e mulher é a mais desvairada das utopias. Mas, que qualquer que seja o destino da relação entre sexos, o movimento feminista guardará o mérito por ter denunciado a insaciável intolerância a alteridade e levado as mulheres a ver o nada em tudo que não as representasse. Também terá tornado o Feminino presente e visível como corpo, história, cultura, crise e projeto.

Um comentário:

  1. "tornar o feminino( hoje temos que falar em femininos) presente e visivel como corpo, história, cultura, crise e projeto" é conquista do feminismo, provando que o que hoje é UTOPIA, amanhã pode ser realidade.

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