O ano de 2011 na Bahia tem sido marcado pelos preparativos das comemorações de 100 anos de vida que o escritor Jorge Amado completaria em 2012. E é neste clima de festa, homenagens e divulgação das suas obras, que acabo de reler esta grande denuncia chamada Capitães da Areia, onde os heróis são marginais (aqueles que estão à margem da sociedade) e a gargalhada deles representa a vingança na madrugada da grande cidade.
Os Capitães da Areia são cerca de mais de cem crianças abandonadas, vestidas com farrapos e esfomeadas. Elas moram em um velho trapiche abandonado numa praia da grande capital baiana, realizam pequenos furtos e topam de tudo para sobreviver.
O grupo é organizado, tem suas leis, seu chefe Pedro Bala e suas tarefas. Cada membro possui um sonho ou um chamado, ainda que aparentemente indefinido. Eles conhecem as ruas, vielas e botecos da grande cidade que é misteriosa e religiosa. São os mais livres da urbe. E esta liberdade, não é por eles trocada nem que seja pela garantia do pão.
Apoia estes meninos, um padre chamado José Pedro que muito me encanta pela sua ousadia e compreensão do chamado cristão. O padre faz pactos de amizade e solidariedade com os meninos abandonados. Estes pactos ferem as leis e ele arrisca a sua vida e a sua carreira. Seu maior risco parece ter sido o de esconder da Saúde Pública, Almiro (um dos capitães, vítima da varíola). Não denunciou porque sabia que quem ia para os lazaretos (lugar onde ficava as vítimas da varíola) não voltava nunca mais. Descobriram o caso e o padre foi questionado pelo Cônego que o classificou como um padre de pouca inteligência misturada com bondade. Mas o sonho do padre José Pedro era regenerar aquelas crianças, levava palavras de amor e conforto àqueles corações carentes. Sua alegria era saber que um deles tinha a vocação para padre e isso recompensava todo o seu esforço.
Assim como a própria vida, o trapiche é o lugar da diversidade e isto me encanta e me faz imaginá-lo como deve ser dinâmico e alegre mesmo com tanta miséria. No trapiche para cada criança, acredito eu, deve haver um rato. Lá tem filho de grevista, tem amante da leitura, tem religioso, tem garanhão, afilhado de Lampião, pederasta (que o grupo não admite) e até um gringo. Tem também no grupo uma menina, chamada Dora, que é diferente daquelas que os capitães derrubam no areal. Ela, não achava justo ser sustentada pelos meninos, queria ser como um dos capitães. Queria tomar parte do que eles faziam e contrapondo a ideia de Pedro Bala que dizia que isso era pra homem, assume seu lugar, veste uma calça e mostra sua força e valentia.
Professor e Sem Pernas são os que mais parecem compreender a perversidade que a desigualdade causa à eles e todos os outros miseráveis. E é olhando a cidade baixa que Professor revela sua percepção, mostra a Pedro Bala a tristeza dos homens pobres que trabalhavam nas docas e nos mercados e diz que "estão tudo com cara de fome". O Sem Pernas acreditava que todo o sofrimento era culpa dos ricos e os odiava com toda a força do seu ser.
O suicídio de Sem Pernas inicialmente me entristece, mas enxergá-lo como um protesto me conforta um pouco mais, pois o mesmo preferia morrer que voltar a apanhar dos policiais. O Professor se torna um grande artista no Rio de Janeiro e os meninos pobres são retratados nos quadros pintados por ele e sua arte deixa a crítica confusa. Dora morre depois de amar e por amar antes de morrer se torna estrela e somente o seu noivo vê. Volta Seca se junta ao bando de Lampião e mata muitos homens. Pirulito se torna padre e catequiza às criancinhas. Gato virou um trapaceiro em Ilhéus e depois partiu para Aracaju com a sua morena. Pedro Bala partiu para a luta, compreendeu o seu chamado, ouvia uma voz poderosa que vinha de todos os excluídos da cidade. A luta agora é outra e o destino mudou.
E agora eu sei que a liberdade pertence aos pobres e a vida é quem ensina o excluído a melhor forma de lutar.
Assista ao trailer do filme "Capitães da Areia" que estará em cartaz nos cinemas em outrubro de 2011.
http://www.youtube.com/watch?v=VTav_7PbnpU
Jorge Amado sempre muito atuale critíco sempre uma boa leitura, e vc sempre muito sabía nas suas definições,amo ler as coisas que vc escreve,
ResponderExcluirGal,
ResponderExcluirvocê escreve bem. Estou falando não apenas de sua capacidade linguística, gramatical, mas sua coragem, sua autonomia de pensamento. Beijos, continue assim.
prof. Marcos Aurélio
Obrigada professor, sua opinião é muito imprtante pra mim!
ResponderExcluirMãe, obrigada pela sua opinião.
ResponderExcluirbjs