Por Adriana Maria de Abreu Barbosa[1]
CAMPINA GRANDE PODE SER AQUI!?
Fiquei encantada com a gentileza e simpatia do povo paraibano. A imagem do risca faca, do povo bruto e “confusento” nada confere com a Campina Grande visitada por mim neste agosto. Qualquer pedido de informação do turista (no caso eu e um grupo de alunos bolsistas da UESB) é atendido com muita explicação e boa vontade. Por vezes, só de ouvir a conversa entre a gente sobre uma dúvida de localização local, no ônibus, já fazia do vizinho de banco alguém solícito a nos prestar a informação que nem sequer chegamos a perguntar.
A cidade que dizem ser mais metrópole do que a capital, João Pessoa (que eu não conheço ainda), apesar do visível desenvolvimento mantém uma dinâmica do interior, tanto no trato entre as pessoas como no ritmo do lugar. Além disso, apesar do tamanho de Campina Grande e da quantidade de habitantes (hoje próximo dos 400 mil) o lugar é limpo e o transito ordenado. Aliás, o sistema de transporte urbano, com um excelente terminal rodoviário que permite que a gente percorra a cidade quase toda pagando um único bilhete de dois reais. Ah sim, e as condições dos ônibus também são muito boas. Eu viciada em andar de carro, não tive problemas de circular da universidade para o hotel e para outros cantos, utilizando o transporte público coletivo.
No caminho do hotel, que ficava no centro da cidade, até a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em bairro mais afastado (o que é comum nas grandes universidades deste país), percorre-se algumas praças verdes, parques com ciclo via e pista de caminhada ao lado do açude.
A UEPB tem vários campi, nós ficamos no Centro de Ciência e Tecnologia (CCT) com algumas cantinas e restaurante universitário, além de espaços amplos que permitem o crescimento da Instituição.
Estávamos lá para mostrar um pouco do trabalho que realizamos no Programa de Iniciação a Docência (PIBID) do curso de Letras-Jequié. E ficamos felizes por perceber que o que fazemos por aqui é pertinente e condiz com o que há de mais novo na reflexão sobre o ensino de língua portuguesa. Entretanto, como não entristecer com a nossa realidade local.
Jequié: uma cidade sem planejamento urbano, sem praças verdes, sem áreas de lazer, sem transporte público coletivo de qualidade. Ao relento, sem sombra pra caminhar, sem calçadas decentes, correndo risco de atropelamentos com motos, e ainda sem lazer, restando apenas cerveja para resfriar a cabeça. E quem não gosta de cerveja e bar faz o quê?
Um motorista paraibano orgulhoso comenta: nossa cidade é uma cidade universitária, qualquer curso que você imaginar tem aqui. Pois é já Jequié tem preferido cursos conquistados em palanques e gente da terra só preocupada em ocupar cargos na universidade para ter notoriedade pública e fazer fama de cidadão da elite. Como ficamos?
Em Jequié, professores (que costumavam mandar e desmandar por aqui) preferem ir fazendo puxadinhos em um campus que não tem mais para onde crescer, só porque moram ali do lado e dá tempo pra cochilar cinco minutos a mais depois do almoço. Se a cidade não tem planejamento urbano, a universidade carece de planejamento político-pedagógico. E não me venha com essa conversa fiada de que o problema está em Conquista, porque esta já não cola mais. Tanta gente daqui pulando de cargo em cargo há anos, gozando de prestígio com reitorias e tramitando tráfico de influências e não conseguem sair do lugar. Tenho certeza de quê, depois da última greve, muitos alunos tomaram consciência que gente que se diz muito preocupada com Jequié e a universidade não toma atitudes condizentes com essas ideias amplamente proferidas nas ruas e rádios da cidade. Os chamados donos do lugar, ou donas, caso prefiram, muito pouco tem feito para realizar tal progresso.
Precisamos urgentemente de um jeito novo de gestar a cidade e a universidade em Jequié. E só há um jeito novo de gestar, quando há um jeito novo de pensar. É preciso repensar a cidade e a UESB. E quem sabe ,quando acabarmos com a xenofobia local, possamos somar com tanta gente nova que chega com vontade de contribuir. E olha que não somos poucos, mas há uma minoria que insiste em não passar a bola mesmo que seja só para guardar a bola no armário e impedir o jogo. Na UESB, por exemplo, há professores que embora já estejam aposentados nas atitudes, ou seja, não pesquisam, não fazem extensão e dão aulas tão velhas como as da época em que se formaram, não abrem mão do direito do abono permanência. Isto é, chega à aposentadoria e pedem pra permanecer, impedindo que a vaga seja liberada para concursos, só para conseguirem uma bonificação salarial do governo por cinco anos. E, enquanto isso, os alunos é quem aturam a falta de professores de qualidade no campus de Jequié.
Portanto, neste mês de agosto, faço logo dois convites: visitar a Paraíba e voltar com vontade de fazer valer o novo em Jequié. Em breve, procurem um blog intitulado VivAfluente, local de encontro pra gente que se afina com essas idéias de mudança e quer contribuir de fato com o crescimento da cidade e da UESB.
[1] Carioca, feminista e professora do curso de Letras da UESB-Jequié.
Fonte: Revista Cotoxó, edição de agosto.
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