sexta-feira, 30 de setembro de 2011
Um passeio pelos blogs e sites que sigo
Graça não combina com cálculos
A crônica "Sem contabilidade", do escritor Rubem Alves, foi sem dúvida uma das leituras mais marcantes que já fiz em toda a minha caminhada cristã em busca do entendimento sobre a graça de Deus. Nesta crônica, Rubem critica as pinturas e máscaras mal feitas do rosto de Deus pelas mãos dos religiosos e nos lembra que Jesus diversas vezes desfez estas máscaras e pinturas errôneas. Dentre essas diversas vezes Rubem Alves destaca em sua crônica a narrativa conhecida como a Parábola do Filho Pródigo, em minha opinião, a mais bonita de todas as parábolas bíblica. Com a ajuda dele aprendi que nesta narrativa o rosto de Deus pintado por Jesus é aquele que não faz distinção entre credores e devedores, eis aqui minhas reflexões.
A maioria das pessoas utiliza esta parábola em sermões para exortar pecadores a se arrepender. Rubem vai além, pois ao invés de enfatizar somente a atitude do filho desobediente ele discorre também sobre a atitude do filho obediente. Na parábola, o filho desobediente sai de casa, gasta todo o dinheiro loucamente, enquanto seu irmão cumpre seu dever de "bom" moço, obedece e resiste às tentações. Este, mesmo não saindo de casa, se mantém distante do pai e não o conhece, assim como aquele que teve a coragem de sair. Os dois filhos estão na mesma situação, pois ambos sabem contabilizar e numa tentativa frustrada tentam colocar isso em prática. O pai não soma crédito nem débito, mas os filhos ainda não sabem disso. Esta é a lógica humana, que muitas vezes tentamos transferir à Deus. Ah... como somos maus! Pensamos até que Ele tem um caderno onde registra todos os nossos feitos positivos e negativos. O diálogo entre os personagens revela o quanto os filhos não conhecem o caráter do pai. O filho mais jovem cheio de culpa acredita ser um devedor, o filho mais velho em busca de seus direitos acredita ser credor, os dois filhos eram iguais um ao outro e iguais a nós: somavam débitos e créditos como bons matemáticos. Mas na conversa entre eles, a resposta do pai é desconcertante, constrangedora. Ele afirma: Eu não somo débitos nem créditos. Somente o pai era diferente, pois Ele era o único na estória que não sabia calcular. Rubem Alves finaliza a sua crônica sugerindo dois títulos à famosa parábola "Um pai que não sabe somar" ou "Um pai que não tem memória". Eu sugiro um outro: "Parábola dos filhos matemáticos".
Que possamos desaprender a fazer contas, afinal, a dívida já foi paga, necessário é que lembremos sempre disso!
Paz e bem!
Vídeo do Jorge Camargo falando da Graça e cantando Amor incondicional.
http://www.youtube.com/watch?v=d7KThE_6Xao&noredirect=1
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
Eu
Sou um rio ligado ao mar
E quando vejo as espumas marítimas furiosas
Escorrerem entre os meus dedos
Penso que vou me perder,
reflito, fico aflita,
me refaço, me despedaço,
me encontro.
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
RESENHA
HOOKS, Bell. Intelectuais negras. Dossiê mulheres negras. Estudos feministas. [Tradução de Marcos Santarrita]
Por Glauce Souza Santos
(estudante de Letras)
Bell Hooks[1] em seu texto Intelectuais Negras, discute sobre a importância do trabalho do intelectual, sobretudo os causadores da desvalorização das intelectuais negras e os seus dilemas.
Inicialmente ela afirma que numa sociedade fundamentalmente anti-intelectual, é difícil para os intelectuais comprometidos e preocupados com mudanças sociais radicais afirmar o impacto significativo dos seus trabalhos. Segundo ela, é esta desvalorização do trabalho intelectual que torna difícil para indivíduos que vem de grupos marginalizados considerarem este trabalho uma atividade útil.
Diante de uma infância perseguida Bell Hooks afirma ter valorizado o trabalho intelectual porque oferecia recursos para intensificar a sobrevivência e o prazer de viver. A sua opção de se voltar para o trabalho intelectual está relacionado ao objetivo de sobreviver a uma infância dolorosa. A mesma acreditava que era a partir desta opção que ela entenderia a sua realidade e o mundo em volta. Sendo assim, afirma que nunca pensou no trabalho intelectual como de algum modo divorciado da política do cotidiano.
Ainda sobre a opção de tornar-se intelectual, Hooks dialoga com Cornel West que afirma “A opção de tornar-se um intelectual é um ato de auto-imposta marginalidade”. Segundo ela, na maioria dos casos esta opção pode remontar a uma raiz comum: uma experiência tipo conversão religiosa comum professor ou colega que o influencia.
Hooks acredita no trabalho intelectual como uma parte necessária da luta pela libertação. Porém, compreende que a subordinação sexista na vida intelectual negra continua a obscurecer e desvalorizar a obra das intelectuais. Neste sentido, não deixa de criticar a falta de discussão do impacto dos papéis sexuais e sexismo no ensaio O Dilema do Intelectual Negro – escrito por Cornel West. Segundo ela, o momento histórico em que foi escrito o ensaio favorecia esta discussão, pois, havia na época um enfoque feminista.
Segundo Bell Hooks, muito pouco se escreveu sobre intelectuais negras e quando a maioria dos negros pensa em grandes mentes, quase sempre vem a imagem de homens. Ela justifica essa invisibilidade afirmando que é ao mesmo tempo em função do racismo, do sexismo e da exploração de classe institucionalizados, e um reflexo da realidade de que grande número de negras não escolhem o trabalho intelectual como sua vocação.
Em seu texto, Hooks se baseia no ensaio Crítica, Ideologia e Ficção de Terry Eagleton, que apresenta o intelectual não apenas como alguém que lida somente com ideias, mas, alguém que lida com ideias transgredindo fronteiras discursivas; alguém que lida com ideias em sua vital relação com uma cultura política mais ampla.
Hooks pontua que a negação às mulheres a oportunidade de seguir uma vida da mente é atuação do patriarcado capitalista com supremacia branca. Por isso acredita que só através da resistência efetiva é possível exigir o direito de afirmar uma presença intelectual.
A autora também discorre sobre a construção dos estereótipos voltados ao corpo feminino negro, o que o categoriza em termos culturais, como bastante distante da vida mental. Outro dilema apresentado no texto é sobre a dificuldade de fazer do trabalho intelectual uma prioridade essencial, segundo a autora, é responsável por isso a socialização sexista inicial que ensina às negras que o trabalho mental tem de ser sempre secundário aos afazeres domésticos, ao cuidado dos filhos, ou a um monte de outras atividades servis.
Hooks pontua também a crítica feita por West em O Dilema do Intelectual Negro, sobre os modelos burgueses de vida intelectual que a concebem só em termos individualistas ou elitistas, e oferece como alternativa o modelo da “insurgência”. Ao confessar que grande parte do trabalho intelectual se realiza em isolamento, logo questiona como podem as negras enfrentar a escolha do isolamento necessário sem entrar no modelo burguês? Por isso apresenta a diferença que há entre o isolamento exercido pelo homens e pela mulher. Assim, ela afirma que para sentir que temos direito a um tempo solitário, as negras, devem romper com as ideias sexistas/racsitas sobre o papel da mulher e a descolonização da sua mente parece ser fundamental para se tornar uma intelectual.
Segundo Bell Hooks a política do patriarcado torna a situação dos intelectuais negros diferente da das negras, pois embora eles enfrentem o racismo, não enfrentam os preconceitos de gênero. Hooks ainda pontua o paradigma oferecido por West que permite uma ênfase em acabar com o sexismo e a opressão sexista como uma condição prévia para a insurgência intelectual do negro. Segundo ela, haverá maior estímulo para que as jovens estudantes escolham caminhos intelectuais quando comunidade negras diversas enfocarem os problemas de gênero e o trabalho de estudiosas for lido e discutido mais amplamente nesses lugares.
Hooks acredita que o trabalho intelectual pode nos ligar a um mundo fora da academia, aprofundar e enriquecer nosso senso de comunidade. E é essa ideia que ela afirma querer compartilhar com as jovens negras temerosas de que o trabalho intelectual nos aliene do mundo “real”.
Portanto, conclui orientando as intelectuais negras comprometidas com práticas insurgentes a reconhecer o apelo para falar abertamente sobre a vida intelectual e sobre o trabalho como forma de ativismo. Pois, segundo ela, quando o trabalho intelectual surge de uma preocupação com a mudança social e política radical, quando esse trabalho é dirigido para as necessidades das pessoas, nos põe numa solidariedade e comunidade maiores e enaltece fundamentalmente a vida.
[1] bell hooks é o pseudônimo de Gloria Jean Watkins, escritora norte-americana nascida em 25 de setembro de 1952, no Kentucky – EUA. O apelido que ela escolheu para assinar suas obras é uma homenagem aos sobrenomes da mãe e da avó. O seu texto é assinado com letra minúscula, opção da própria autora.
domingo, 4 de setembro de 2011
Capitães da Areia, heróis marginais
O ano de 2011 na Bahia tem sido marcado pelos preparativos das comemorações de 100 anos de vida que o escritor Jorge Amado completaria em 2012. E é neste clima de festa, homenagens e divulgação das suas obras, que acabo de reler esta grande denuncia chamada Capitães da Areia, onde os heróis são marginais (aqueles que estão à margem da sociedade) e a gargalhada deles representa a vingança na madrugada da grande cidade.
Os Capitães da Areia são cerca de mais de cem crianças abandonadas, vestidas com farrapos e esfomeadas. Elas moram em um velho trapiche abandonado numa praia da grande capital baiana, realizam pequenos furtos e topam de tudo para sobreviver.
O grupo é organizado, tem suas leis, seu chefe Pedro Bala e suas tarefas. Cada membro possui um sonho ou um chamado, ainda que aparentemente indefinido. Eles conhecem as ruas, vielas e botecos da grande cidade que é misteriosa e religiosa. São os mais livres da urbe. E esta liberdade, não é por eles trocada nem que seja pela garantia do pão.
Apoia estes meninos, um padre chamado José Pedro que muito me encanta pela sua ousadia e compreensão do chamado cristão. O padre faz pactos de amizade e solidariedade com os meninos abandonados. Estes pactos ferem as leis e ele arrisca a sua vida e a sua carreira. Seu maior risco parece ter sido o de esconder da Saúde Pública, Almiro (um dos capitães, vítima da varíola). Não denunciou porque sabia que quem ia para os lazaretos (lugar onde ficava as vítimas da varíola) não voltava nunca mais. Descobriram o caso e o padre foi questionado pelo Cônego que o classificou como um padre de pouca inteligência misturada com bondade. Mas o sonho do padre José Pedro era regenerar aquelas crianças, levava palavras de amor e conforto àqueles corações carentes. Sua alegria era saber que um deles tinha a vocação para padre e isso recompensava todo o seu esforço.
Assim como a própria vida, o trapiche é o lugar da diversidade e isto me encanta e me faz imaginá-lo como deve ser dinâmico e alegre mesmo com tanta miséria. No trapiche para cada criança, acredito eu, deve haver um rato. Lá tem filho de grevista, tem amante da leitura, tem religioso, tem garanhão, afilhado de Lampião, pederasta (que o grupo não admite) e até um gringo. Tem também no grupo uma menina, chamada Dora, que é diferente daquelas que os capitães derrubam no areal. Ela, não achava justo ser sustentada pelos meninos, queria ser como um dos capitães. Queria tomar parte do que eles faziam e contrapondo a ideia de Pedro Bala que dizia que isso era pra homem, assume seu lugar, veste uma calça e mostra sua força e valentia.
Professor e Sem Pernas são os que mais parecem compreender a perversidade que a desigualdade causa à eles e todos os outros miseráveis. E é olhando a cidade baixa que Professor revela sua percepção, mostra a Pedro Bala a tristeza dos homens pobres que trabalhavam nas docas e nos mercados e diz que "estão tudo com cara de fome". O Sem Pernas acreditava que todo o sofrimento era culpa dos ricos e os odiava com toda a força do seu ser.
O suicídio de Sem Pernas inicialmente me entristece, mas enxergá-lo como um protesto me conforta um pouco mais, pois o mesmo preferia morrer que voltar a apanhar dos policiais. O Professor se torna um grande artista no Rio de Janeiro e os meninos pobres são retratados nos quadros pintados por ele e sua arte deixa a crítica confusa. Dora morre depois de amar e por amar antes de morrer se torna estrela e somente o seu noivo vê. Volta Seca se junta ao bando de Lampião e mata muitos homens. Pirulito se torna padre e catequiza às criancinhas. Gato virou um trapaceiro em Ilhéus e depois partiu para Aracaju com a sua morena. Pedro Bala partiu para a luta, compreendeu o seu chamado, ouvia uma voz poderosa que vinha de todos os excluídos da cidade. A luta agora é outra e o destino mudou.
E agora eu sei que a liberdade pertence aos pobres e a vida é quem ensina o excluído a melhor forma de lutar.
Assista ao trailer do filme "Capitães da Areia" que estará em cartaz nos cinemas em outrubro de 2011.
http://www.youtube.com/watch?v=VTav_7PbnpU
sexta-feira, 2 de setembro de 2011
Convite à Leitura
Por Adriana Maria de Abreu Barbosa[1]
CAMPINA GRANDE PODE SER AQUI!?
Fiquei encantada com a gentileza e simpatia do povo paraibano. A imagem do risca faca, do povo bruto e “confusento” nada confere com a Campina Grande visitada por mim neste agosto. Qualquer pedido de informação do turista (no caso eu e um grupo de alunos bolsistas da UESB) é atendido com muita explicação e boa vontade. Por vezes, só de ouvir a conversa entre a gente sobre uma dúvida de localização local, no ônibus, já fazia do vizinho de banco alguém solícito a nos prestar a informação que nem sequer chegamos a perguntar.
A cidade que dizem ser mais metrópole do que a capital, João Pessoa (que eu não conheço ainda), apesar do visível desenvolvimento mantém uma dinâmica do interior, tanto no trato entre as pessoas como no ritmo do lugar. Além disso, apesar do tamanho de Campina Grande e da quantidade de habitantes (hoje próximo dos 400 mil) o lugar é limpo e o transito ordenado. Aliás, o sistema de transporte urbano, com um excelente terminal rodoviário que permite que a gente percorra a cidade quase toda pagando um único bilhete de dois reais. Ah sim, e as condições dos ônibus também são muito boas. Eu viciada em andar de carro, não tive problemas de circular da universidade para o hotel e para outros cantos, utilizando o transporte público coletivo.
No caminho do hotel, que ficava no centro da cidade, até a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em bairro mais afastado (o que é comum nas grandes universidades deste país), percorre-se algumas praças verdes, parques com ciclo via e pista de caminhada ao lado do açude.
A UEPB tem vários campi, nós ficamos no Centro de Ciência e Tecnologia (CCT) com algumas cantinas e restaurante universitário, além de espaços amplos que permitem o crescimento da Instituição.
Estávamos lá para mostrar um pouco do trabalho que realizamos no Programa de Iniciação a Docência (PIBID) do curso de Letras-Jequié. E ficamos felizes por perceber que o que fazemos por aqui é pertinente e condiz com o que há de mais novo na reflexão sobre o ensino de língua portuguesa. Entretanto, como não entristecer com a nossa realidade local.
Jequié: uma cidade sem planejamento urbano, sem praças verdes, sem áreas de lazer, sem transporte público coletivo de qualidade. Ao relento, sem sombra pra caminhar, sem calçadas decentes, correndo risco de atropelamentos com motos, e ainda sem lazer, restando apenas cerveja para resfriar a cabeça. E quem não gosta de cerveja e bar faz o quê?
Um motorista paraibano orgulhoso comenta: nossa cidade é uma cidade universitária, qualquer curso que você imaginar tem aqui. Pois é já Jequié tem preferido cursos conquistados em palanques e gente da terra só preocupada em ocupar cargos na universidade para ter notoriedade pública e fazer fama de cidadão da elite. Como ficamos?
Em Jequié, professores (que costumavam mandar e desmandar por aqui) preferem ir fazendo puxadinhos em um campus que não tem mais para onde crescer, só porque moram ali do lado e dá tempo pra cochilar cinco minutos a mais depois do almoço. Se a cidade não tem planejamento urbano, a universidade carece de planejamento político-pedagógico. E não me venha com essa conversa fiada de que o problema está em Conquista, porque esta já não cola mais. Tanta gente daqui pulando de cargo em cargo há anos, gozando de prestígio com reitorias e tramitando tráfico de influências e não conseguem sair do lugar. Tenho certeza de quê, depois da última greve, muitos alunos tomaram consciência que gente que se diz muito preocupada com Jequié e a universidade não toma atitudes condizentes com essas ideias amplamente proferidas nas ruas e rádios da cidade. Os chamados donos do lugar, ou donas, caso prefiram, muito pouco tem feito para realizar tal progresso.
Precisamos urgentemente de um jeito novo de gestar a cidade e a universidade em Jequié. E só há um jeito novo de gestar, quando há um jeito novo de pensar. É preciso repensar a cidade e a UESB. E quem sabe ,quando acabarmos com a xenofobia local, possamos somar com tanta gente nova que chega com vontade de contribuir. E olha que não somos poucos, mas há uma minoria que insiste em não passar a bola mesmo que seja só para guardar a bola no armário e impedir o jogo. Na UESB, por exemplo, há professores que embora já estejam aposentados nas atitudes, ou seja, não pesquisam, não fazem extensão e dão aulas tão velhas como as da época em que se formaram, não abrem mão do direito do abono permanência. Isto é, chega à aposentadoria e pedem pra permanecer, impedindo que a vaga seja liberada para concursos, só para conseguirem uma bonificação salarial do governo por cinco anos. E, enquanto isso, os alunos é quem aturam a falta de professores de qualidade no campus de Jequié.
Portanto, neste mês de agosto, faço logo dois convites: visitar a Paraíba e voltar com vontade de fazer valer o novo em Jequié. Em breve, procurem um blog intitulado VivAfluente, local de encontro pra gente que se afina com essas idéias de mudança e quer contribuir de fato com o crescimento da cidade e da UESB.
[1] Carioca, feminista e professora do curso de Letras da UESB-Jequié.
Fonte: Revista Cotoxó, edição de agosto.