sábado, 18 de maio de 2013

Religiosos, acadêmicos e intelectuais: um alerta aos irmãos católicos



"A fé e o pensamento caminham juntos; e é impossível crer sem pensar."
John Stott


Dentre muitas coisas interessantes que estudamos ao cursar Letras, encontra-se o tema do discurso. Aprendemos basicamente que é de suma importância a adequação do discurso para cada lugar (espaço) em que pretendemos nos comunicar. Além disso, aprendemos que por trás das falas sempre há uma(s) ideologia(s).


Confirmei mais uma vez estas verdades ontem à noite, dia 17 de maio de 2013, ao ouvir a fala de cada representante religioso no culto ecumênico da turma de Letras 2012.2 UESB, campus Jequié. Ao contrário de muita gente, gosto de frequentar estes espaços. Primeiro por causa da minha afinidade com temas religiosos e espirituais. Segundo porque considero este espaço, um campo propício a uma análise profunda dos discursos. 


Em minha opinião, o culto ecumênico é um momento/lugar de agradecimento e de reflexão. Cada um faz o seu agradecimento a quem acredita ser seu Criador, sua força e fonte de inspiração que o levou até ali. A reflexão fica por conta dos líderes religiosos que estarão representando cada religião. São eles que falarão principalmente aos formandos, sobre fé e vida. E se “(...) o lugar faz parte do discurso...” - como bem afirmou há poucos dias um ex-professor meu, em um de seus textos - acredito que as mensagens em culto ecumênico devem ser constituídas principalmente de espiritualidade, aplicabilidade e criticidade inteligente, tudo isso porque os seus interlocutores são nada mais, nada menos que religiosos, acadêmicos e intelectuais, acostumados a relacionar teoria e prática. 


Sem querer ser bairrista - quem me conhece sabe que não sou - escrevo este texto para parabenizar a mensagem proferida pelo representante da comunidade evangélica neste culto, pastor Ivan Luiz, líder da Igreja Evangélica Família de Deus no bairro Mandacarú, Jequié. Em sua mensagem ele incluiu todos estes pontos que considero importantes. Sua fala não se resumiu em uma pregação recheada de sentenças finais e não contribuiu para que ali começássemos alguns rituais irracionais a Deus. Falou sobre libertação baseado no texto bíblico de João 8:32 que diz: "e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará", enfatizando sobre a prisão intelectual em que algumas pessoas vivem. "Muitas delas se encontram dentro das igrejas, alienadas e aprisionadas", disse ele. Mas, o pastor deixou claro que é o professor, em seu nobre exercício, o responsável também em levar esta libertação. Sua fala foi capaz de nos levar a perceber que o exercício docente é também a possibilidade de demonstrar a fé. Mesmo utilizando uma metáfora tão simplória - a da beleza de um jardim repleto de flores diferentes – não deixou de falar da diversidade que é o mundo e da tolerância necessária para vivermos em paz. “(...) ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão”, o pastor ainda relembrou que é Jesus de Nazaré a fonte desta célebre frase do educador Paulo Freire. Quem estava do meu lado, viu o quanto eu vibrei com as palavras do pastor.


A fala do representante evangélico supriu a lacuna deixada anteriormente pelo representante católico que apenas reproduziu versículos soltos, e proferiu uma fala sem novidade, longe de reflexões mais profundas a respeito da fé e do exercício docente. O católico mais parecia um evangélico pentecostal. Alguém pode me responder por onde andam as marcas de uma teologia engajada e o mínimo que seja daquela crítica que fez/faz parte da história dos movimentos sociais católicos de base? A sua fala recheada de inadequações me causava arrepios na espinha dorsal.


Para mim, significou muito constatar a presença da crítica e da reflexão na boca dos líderes evangélicos nos dois últimos cultos do curso de Letras. Só não imaginava que elas faltariam mais uma vez na boca de um católico.

Um comentário:

  1. é....eu estive lá, de fato, você estava vibrando minha amiga. O pastor Ivan foi brilhante nas colocações, parabéns...

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