domingo, 28 de abril de 2013

Resumo do texto "O narrador pós-moderno" de Silviano Santiago


                                                                                                                                       Por Glauce Souza

SANTIAGO, Silviano. O narrador pós-moderno. In: Nas malhas das letras: ensaios/Rio de Janeiro; Rocco, 2002, p. 38-52

É a partir dos contos de Edilberto Coutinho (EC) que Silviano Santiago em seu texto O narrador pós-moderno, discute o que ele considera uma das questões básicas sobre o narrador na pós-modernidade: quem narra uma história é quem a experimenta, ou quem a vê?

O autor apresenta as diferenças entre aquele que narra a partir da experiência e aquele que narra a partir da observação, sinalizando que entre estas diferenças o que está em questão é a noção de autenticidade.

A partir daí, Silviano Santiago arrisca sua primeira hipótese: “o narrador pós-moderno é aquele que quer extrair a si da ação narrada, em atitude semelhante à de um repórter ou de um espectador. Ele narra a ação enquanto espetáculo a que assiste (...) da plateia, da arquibancada ou de uma poltrona na sala de estar da biblioteca; ele não narra enquanto atuante.”

Santiago afirma que ao trabalhar com o narrador que olha para se informar, a ficção de EC dá um passo a mais no processo de rechaço e distanciamento do narrador clássico, segundo as características feitas dele por Walter Benjamin no texto O narrador – considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. É este movimento que torna o narrador pós-moderno, declara Santiago.

Para ele, Walter Benjamin pode caracterizar três estágios por que passa a história do narrador. Primeiro, o narrador clássico, que proporciona ao seu ouvinte a oportunidade de um intercâmbio de experiência; Segundo, o narrador do romance, que não mais pode falar de maneira exemplar ao seu leitor; Terceiro, o narrador que é jornalista, que só transmite pelo narrar a informação, escreve não para narrar a ação da sua própria experiência e sim de outros. Benjamin em seu ensaio valoriza o primeiro estágio e desvaloriza o terceiro e, em seu raciocínio, o principal eixo em torno do qual gira o “embelezamento” (e não a decadência) da narrativa clássica hoje é a perda gradual e constante da sua dimensão utilitária e essa utilidade consiste num ensinamento moral, sugestão prática, provérbio ou norma de vida.

Assim, Silviano Santiago arrisca sua segunda hipótese de trabalho: “o narrador pós-moderno é o que transmite uma sabedoria que é decorrência da observação de uma vivência alheia a ele, visto que a ação que narra não foi tecida na substância viva da sua existência”.
            
É a partir de alguns contos de EC que o autor tenta comprovar as suas hipóteses e entender o significado e a extensão dos problemas propostos a fim de subsidiar numa discussão e futura tipologia do narrador pós-moderno.
            
Neste texto, ele afirma que, a maioria dos contos de EC se recobre e se enriquecem pelo enigma que cerca a compreensão do olhar humano na civilização moderna e o que está em jogo nestes contos é o denso mistério que cerca a figura do narrador pós moderno. Também afirma que o essencial da ficção de EC é a própria arte do narrar hoje.
            
Atrelada a esta constatação e a partir da analise nos contos “Sangue na praça” e “Azeitona e vinho” em que os narradores têm atitude semelhante, surge uma pergunta válida: por que o narrador não narra sua experiência de vida? Santiago afirma que a ação pós-moderna é jovem, inexperiente, exclusiva e privada da palavra e isso explica porque a ação não pode ser dada como sendo do narrador.
            
A respeito do narrador e do leitor, o autor afirma que ambos se encontram privados da exposição da própria experiência na ficção e são observadores atentos da experiência alheia. Segundo ele, a importância do personagem na ficção pós moderna se revela na pobreza de experiência tanto do narrador quanto do leitor, e estes se definem como espectadores de uma ação alheia que os empolga, emociona e seduz.

Segundo Santiago para falar da incomunicabilidade de experiências (a do narrador e a do personagem) que a ficção existe. A incomunicabilidade, no entanto, se recobre pelo tecido de uma relação, relação esta que se define pelo olhar e a retribuição deste olhar não é importante. Trata-se de um investimento feito pelo narrador em que ele não cobra lucro, pois o lucro está no próprio prazer que tem de olhar. A respeito da maioria dos contos de Coutinho, ele assegura que se recobrem e se enriquecem pelo enigma que cerca a compreensão do olhar humano na civilização moderna.
          
Santiago adverte que caso o olhar queira ser reconhecido como conselho, surge a incomunicabilidade entre o mais experiente e o menos. A sabedoria apresenta-se, pois, de modo invertido. Assim, declara: “Há um conflito de sabedorias na arena da vida, como há um conflito entre narrador e personagem na arena da narrativa”.
           
Feito isto, apresenta uma distinção importante entre o narrador pós-moderno e o seu contemporâneo (em termos de Brasil), o narrador memorialista. Na narrativa memorialista, o narrador mais experiente fala de si mesmo enquanto personagem menos experiente, extraindo da defasagem temporal e mesmo sentimental a possibilidade de um bom conselho. Já o narrador da ficção pós-moderna não quer enxergar a si ontem, mas quer observar o seu ontem no hoje de um jovem.
          
Silvano Santiago ainda afirma que há um olhar camuflado na escrita sobre o narrador de Benjamin que merece ser revelado e que se assemelha ao olhar que é descrito no texto. Segundo ele, o olhar no raciocínio de Benjamin caminha para o leito da morte, o luto, o sofrimento e a lágrima enquanto que o olhar pós-moderno (em nada camuflado, apenas enigmático) volta-se para a luz, o prazer, a alegria e o riso.
           
Santiago finaliza o texto chamando à atenção para a dureza e exigência dos tempos pós-modernos. Uma delas, querer a ação enquanto energia e se falta à ação representada o respaldo da experiência, esta, passa a ser vinculada ao olhar, pois, segundo ele: “O narrador que olha é a contradição e a redenção da palavra na época da imagem. Ele olha para que o seu olhar se recubra de palavra, constituindo uma narrativa.”




3 comentários:

  1. Perfeito esse resumo.
    Gostei muito!
    Está de parabéns!!!

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  2. Gal, parabéns! Esse resumo muito me ajudou a entender a questão da autoria sob os moldes de Santiago, assunto tão complexo que "bate de testa" com as discussões de Benjamin e também de Foucault. Gosto do assunto, pois sou aprendiz de escritora entre outras coisas. rsrs

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