Hoje estava folheando um caderno utilizado por mim durante o VI semestre do meu curso (Letras Vernáculas). Me deparei com três resumos meus, os quais julguei interessantes por causa da escrita clara e organizada. Sei que muitas teorias apregoadas na acadêmia acabam esquecidas nos nossos cadernos empoeirados e isto se torna um pecado quando se refere a teorias fundamentais para a nossa prática docente. Para que isto não aconteça em minha vida, resolvi retirá-las do caderno e publicá-las aqui no blog. Além disso, pretendo levá-las na mente. Dos três resumos encontrados, o primeiro a ser publicado é este, referente ao capítulo Oralidade e Letramento do livro Da fala para a escrita: atividades de retextualização de Luiz Antônio Marcuschi utilizado na disciplina Temas especiais I.
Resumo: MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização – 3. Ed. – São Paulo: Cortez, 2001 (p. 15 à 24)
Segundo Luiz Antônio Marcuschi, a investigação da oralidade e letramento se dá com uma referência direta ao papel dessas duas práticas na civilização contemporânea, assim também se dá a observação das disciplinas e semelhanças entre fala e escrita.
Nas três décadas anteriores aos anos 80, a oralidade e a escrita eram examinadas como opostas. Assim, predominava o que Street (1984) chamou de “paradigma da autonomia”, em que se considerava a relação oralidade e letramento como dicotômica e não se vendo nelas duas práticas sociais.
É fundamental considerar que as línguas se fundam em usos e não o contrário. Baseando-se nisto, Marcuschi propõe que nossa atenção seja concentrada primeiramente nos usos da língua e não às regras da língua nem na morfologia, pois os usos que fazemos da língua são determinantes à variação linguística em todas as suas manifestações e que é a tarefa de esclarecer a natureza das práticas sociais que envolvem o uso da língua, escrita e falada, de um modo geral.
A respeito da presença da oralidade e da escrita na sociedade Marcuschi afirma que a escrita é usada em contextos sociais da vida cotidiana em paralelo com a oralidade e que as ênfases e os objetivos do uso da escrita são variados e diversos. Por isso, ele afirma que inevitáveis relações entre escrita e contexto devem existir. A partir desta compreensão entende-se que não só existe um letramento, mas também letramentos sociais que surgem e desenvolvem à margem da escola.
Relembrando algumas questões relativas à alfabetização, Marcuschi declara que um dos mitos a ser combatido na sua discussão é a ideia de que a alfabetização se tornou um passaporte para a civilização e para o conhecimento, que é uma tendência a reconhecer valores imanentes à própria tecnologia.
Ele distingue letramento, alfabetização e escolarização. Para Marcuschi, letramento é um processo de aprendizagem social e histórica da leitura e da escrita em contextos informais e para usos utilitários; alfabetização, compreende o domínio ativo e sistemático das habilidades de ler e escrever e mesmo se dando à margem da instituição escolar é um aprendizado mediante ensino; escolarização, é uma prática formal e institucional de ensino que visa a uma formação integral do indivíduo.
Ao questionar, quais são os usos da oralidade e da escrita em nossa sociedade, Marcuschi pontua que há diferença no uso da escrita entre homens e mulheres, que a perspectiva da escrita na escola é diferente da perspectiva que se tem fora dela e que o acesso à escrita é diferenciado.
Equiparar a alfabetização, domínio da escrita e da leitura, com desenvolvimento e sugerir que a entrada da escrita representa a entrada do raciocínio lógico e abstrato, são para Marcuschi teses cheias de equívocos. Pois, segundo ele, na sociedade atual, tanto a oralidade quanto a escrita são imprescindíveis. Trata-se de não confundir seus papéis e seus contextos de uso, e de não discriminar seus usuários.
Segundo Marcuschi, não deixa de ser enganoso o fato de usar o argumento que o progresso está de tal modo ligado à alfabetização, a favor da supremacia da escrita. Ele afirma, que a escrita é um fato histórico e deve ser tratado como tal e não como um bem natural. Ainda admite que a escrita tem hoje um papel muito diferente do que aquele que ela tinha em outros tempos e culturas. Isto prova que a história do papel da escrita na sociedade e da própria relevância da alfabetização não é linear. Além disto, ele diz que a alfabetização tem alguns aspectos contraditórios. Pode ser útil ou preocupante aos governantes. Para Marcuschi, o controle e a supervisão do Estado além de orientar o ensino para seus objetivos, sugere que a apropriação da escrita é um fenômeno “ideologizável”.
Marcuschi conclui afirmando que a imensa penetração da escrita e o seu predomínio tem deixado a fala, na ordem do dia, ou em segundo plano. Mas, ele chega a dizer ser bastante interessante refletir melhor sobre o lugar da oralidade hoje, seja nos contextos de usos da vida diária ou nos contextos de formação escolar formal.
Muito obrigado. Precisava refletir sobre isso. É muito bom ver você avivando as letras...continue nos presenteando com suas reflexões...Abraços! Roberlan
ResponderExcluirMuito bom seu texto "Gal". Tudo de bombeijusssss
ResponderExcluirRozenildo(Rò)
Gal, que 2012 seja pra vc, uma ano de boas reflexões como essa, de teorias que saiam do caderno e se transformem em vida rica e produtiva. Muito mais sucesso para vc!
ResponderExcluirValeu meus queridos seguidores do blog.
ResponderExcluirObrigada pelo retorno.