quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Que a teoria saia dos nossos cadernos



Hoje estava folheando um caderno utilizado por mim durante o VI semestre do meu curso (Letras Vernáculas). Me deparei com três resumos meus, os quais julguei interessantes por causa da escrita clara e organizada. Sei que muitas teorias apregoadas na acadêmia acabam esquecidas nos nossos cadernos empoeirados e isto se torna um pecado quando se refere a teorias fundamentais para a nossa prática docente. Para que isto não aconteça em minha vida, resolvi retirá-las do caderno e publicá-las aqui no blog. Além disso, pretendo levá-las na mente. Dos três resumos encontrados, o primeiro a ser publicado é este, referente ao capítulo Oralidade e Letramento do livro Da fala para a escrita: atividades de retextualização de Luiz Antônio Marcuschi utilizado na disciplina Temas especiais I.

Resumo: MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização – 3. Ed. – São Paulo: Cortez, 2001 (p. 15 à 24)

Segundo Luiz Antônio Marcuschi, a investigação da oralidade e letramento se dá com uma referência direta ao papel dessas duas práticas na civilização contemporânea, assim também se dá a observação das disciplinas e semelhanças entre fala e escrita.

Nas três décadas anteriores aos anos 80, a oralidade e a escrita eram examinadas como opostas. Assim, predominava o que Street (1984) chamou de “paradigma da autonomia”, em que se considerava a relação oralidade e letramento como dicotômica e não se vendo nelas duas práticas sociais.

É fundamental considerar que as línguas se fundam em usos e não o contrário. Baseando-se nisto, Marcuschi propõe que nossa atenção seja concentrada primeiramente nos usos da língua e não às regras da língua nem na morfologia, pois os usos que fazemos da língua são determinantes à variação linguística em todas as suas manifestações e que é a tarefa de esclarecer a natureza das práticas sociais que envolvem o uso da língua, escrita e falada, de um modo geral.

A respeito da presença da oralidade e da escrita na sociedade Marcuschi afirma que a escrita é usada em contextos sociais da vida cotidiana em paralelo com a oralidade e que as ênfases e os objetivos do uso da escrita são variados e diversos. Por isso, ele afirma que inevitáveis relações entre escrita e contexto devem existir. A partir desta compreensão entende-se que não só existe um letramento, mas também letramentos sociais que surgem e desenvolvem à margem da escola.

Relembrando algumas questões relativas à alfabetização, Marcuschi declara que um dos mitos a ser combatido na sua discussão é a ideia de que a alfabetização se tornou um passaporte para a civilização e para o conhecimento, que é uma tendência a reconhecer valores imanentes à própria tecnologia.

Ele distingue letramento, alfabetização e escolarização. Para Marcuschi, letramento é um processo de aprendizagem social e histórica da leitura e da escrita em contextos informais e para usos utilitários; alfabetização, compreende o domínio ativo e sistemático das habilidades de ler e escrever e mesmo se dando à margem da instituição escolar é um aprendizado mediante ensino; escolarização, é uma prática formal e institucional de ensino que visa a uma formação integral do indivíduo.

Ao questionar, quais são os usos da oralidade e da escrita em nossa sociedade, Marcuschi pontua que há diferença no uso da escrita entre homens e mulheres, que a perspectiva da escrita na escola é diferente da perspectiva que se tem fora dela e que o acesso à escrita é diferenciado.

Equiparar a alfabetização, domínio da escrita e da leitura, com desenvolvimento e sugerir que a entrada da escrita representa a entrada do raciocínio lógico e abstrato, são para Marcuschi teses cheias de equívocos. Pois, segundo ele, na sociedade atual, tanto a oralidade quanto a escrita são imprescindíveis. Trata-se de não confundir seus papéis e seus contextos de uso, e de não discriminar seus usuários.

Segundo Marcuschi, não deixa de ser enganoso o fato de usar o argumento que o progresso está de tal modo ligado à alfabetização, a favor da supremacia da escrita. Ele afirma, que a escrita é um fato histórico e deve ser tratado como tal e não como um bem natural. Ainda admite que a escrita tem hoje um papel muito diferente do que aquele que ela tinha em outros tempos e culturas. Isto prova que a história do papel da escrita na sociedade e da própria relevância da alfabetização não é linear. Além disto, ele diz que a alfabetização tem alguns aspectos contraditórios. Pode ser útil ou preocupante aos governantes. Para Marcuschi, o controle e a supervisão do Estado além de orientar o ensino para seus objetivos, sugere que a apropriação da escrita é um fenômeno “ideologizável”.

Marcuschi conclui afirmando que a imensa penetração da escrita e o seu predomínio tem deixado a fala, na ordem do dia, ou em segundo plano. Mas, ele chega a dizer ser bastante interessante refletir melhor sobre o lugar da oralidade hoje, seja nos contextos de usos da vida diária ou nos contextos de formação escolar formal.

4 comentários:

  1. Muito obrigado. Precisava refletir sobre isso. É muito bom ver você avivando as letras...continue nos presenteando com suas reflexões...Abraços! Roberlan

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  2. Muito bom seu texto "Gal". Tudo de bombeijusssss
    Rozenildo(Rò)

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  3. Gal, que 2012 seja pra vc, uma ano de boas reflexões como essa, de teorias que saiam do caderno e se transformem em vida rica e produtiva. Muito mais sucesso para vc!

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  4. Valeu meus queridos seguidores do blog.
    Obrigada pelo retorno.

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